VIDA E CONSCIÊNCIA
Jo 1:4; Rm 8:12; 1Co 12:26
Do ponto de vista humano, a vida parece ser bem intocável e bastante abstrata. Como se pode apresentar a vida de maneira tal que as pessoas reconheçam o que de fato a vida é? Não podemos tomar a vida como tal e explicá-la aos demais; tampouco podem os outros explicá-la para nós. Entretanto, todos podemos conhecer e reconhecer esta vida ao sentirmos a consciência da vida, o que é para nós muito mais substancial. Agora, do mesmo modo, a vida que Deus tem dado ao cristão também pode ser conhecida pelo fato de ela ser consciente. Ainda que não possamos tomar na mão esta vida divina e mostrá-la, tanto a nós mesmos como aos outros, contudo sabemos que temos esta vida nova porque existe algo dentro de nós, algo de que somos conscientes, algo que é completamente novo.
1 - Consciência da Vida de Deus
Depois que uma pessoa aceitou o Senhor, dizemos não somente que ela é salva, mas também que tem sido regenerada. Isto significa que este homem agora tem nascido de Deus; que tem recebido uma nova vida Dele. Entretanto, isto é algo difícil de explicar. Como ele sabe que tem a vida de Deus? Como saberão os demais que ele tem a vida divina? Como saberá a igreja que ele tem a vida de Deus? A presença da vida divina é provada pela consciência desta vida. Se a vida de Deus está nele, ele também deve ser consciente desta vida.
O que é a consciência desta vida? Um cristão que tem sido derrotado pelo pecado sente-se profundamente afetado e intranquilo. E isto é um aspecto desta consciência. Ele se sente intranquilo quando peca. Ele se dá conta imediatamente de que há um véu entre ele e Deus depois de haver pecado, e perde seu gozo interior. Tais manifestações são aspectos da consciência desta vida, porque, visto que a vida de Deus odeia o pecado, uma pessoa que tem a vida de Deus apresenta necessariamente uma certa reação diante do pecado. O fato de possuir este sentimento da vida é prova de que se possui a vida.
Suponhamos que um homem diz ter confessado que é um pecador e que tenha aceitado o Senhor Jesus como seu Salvador, porém não tem nenhum escrúpulo contra o pecado... Este homem tem nascido de novo?
Em tal caso, se ele comete um pecado, alguém tem que ir à sua casa e dizer-lhe que tem agido mal, antes que ele mesmo reconheça que de fato tem agido mal. Quando uma pessoa pergunta-lhe porque cometeu o pecado, ele, em sua ignorância, responderá: "Por que não posso fazer isso?" Quando ele for informado pela segunda vez que tem cometido outro pecado, confessará que tem feito algo equivocado.
Entretanto, não muito mais tarde, comete outro pecado e alguém se vê obrigado a informar-lhe da transgressão, antes que ele a reconheça. Neste caso, não é que ele não escute as palavras dos que lhe
informa; de fato, ele é muito obediente a este respeito. O problema está em que ele mesmo não tem consciência espiritual. Pode-se dizer, portanto, que esta pessoa tem a vida de Deus, se ela não evidencia reconhecimento espiritual e se são os demais que tem que sentir por ela? Se ele tivesse a vida de Deus, teria consciência dela em si mesmo. É impossível que uma pessoa tenha a vida espiritual e não seja consciente desta vida. A vida de Deus não é algo, nebuloso nem abstrato; é algo muito concreto e cheio de substância. Como sabemos que tem substância? Porquê esta vida tem sua própria consciência.
Tendo a vida de Deus, a pessoa não somente se dá conta de seus pecados (o lado negativo), mas também conhece a Deus (o lado positivo); porque o que recebemos não é o espírito de um escravo, mas o espírito característico de um filho. Sentimos, de maneira natural, que Deus é acessível e que o chamar-Lhe "Aba, Pai" é algo doce (Gl 4:6). O Espírito Santo dá testemunho a nosso espírito que nós somos filhos de Deus (Rm 8:16). O conhecer a Deus como Pai é, portanto, a consciência interior desta vida divina.
Existem pessoas que possuem somente uma compreensão doutrinária; nunca têm se encontrado com Deus; e, portanto têm medo Dele, a Quem não podem tocar. Elas não têm nenhuma relação de vida com Deus e o Espírito Santo não tem testificado a seu espírito que elas são filhos de Deus. Elas não podem clamar desde seu espírito: "Aba, Pai". Estas pessoas oram, porém em sua oração nem sentem a distância a que está o pecado, nem a proximidade a que está o Senhor. Elas não têm o sentimento de que o pecado é horroroso, nem têm a intimidade de Deus. Elas não têm nenhuma relação com Deus porque ainda não têm recebido a nova vida que vem Dele. Portanto, estas pessoas não sentem que Deus está perto, nem tampouco sentem que Cristo já tirou o muro de separação entre elas e Deus. Em resumo, elas não têm a consciência de serem filhos de Deus. Elas podem até confessar que são cristãos, porém seu sentimento diante de Deus não é suficiente. Ainda que com a boca digam "Pai nosso, Que estás nos céus", isto não lhes produz nenhuma sensação. Somente a presença de tal consciência manifesta a existência da vida. Agora, se nunca tem existido tal consciência, como se pode dizer que a vida divina está dentro destas pessoas?